O sistema digestório dos
cães é composto por diferentes órgãos responsáveis pelo processo da digestão e
absorção de nutrientes, é um sistema complexo que atua de maneira coordenada,
dependendo da atuação correta de todos os seus componentes: cavidade oral,
esôfago, estômago, intestino delgado e grosso assim como glândulas salivares,
pâncreas e fígado, além de uma grande interação com outro sistemas corporais.
(KÖNIG, 2011)
Por conta de todas as
interações o clinico não deve menosprezar os exames semiológicos básicos como
uma anamnese bem feita e um exame físico detalhado, mesmo existindo uma gama de
exames complementares, os métodos semiológicos proporcionam um direcionamento
adequado a qual método complementar optar e sua interpretação correta.
Sequencia do exame físico do
sistema digestório de pequenos animais :
ANAMNESE
Os principais sinais no
sistema digestório são quanto ao apetite, deglutição, vômito, regurgitação,
defecação, ingestão de água pode ser apresentação, alteração no hábito,
diminuição ou aumento desses sinais citados acima.
As perguntas devem seguir um
raciocínio cronológico que é particular de cada veterinário, podendo começar
como informações básicas como vacinação, última vermifugação, se o animal
possui acesso a rua ou contato com outros animais, qual ambiente em que o
animal vive, como é feito o manejo desse lugar (limpeza das instalações).
A alimentação é um dos
principais responsáveis por enfermidades do sistema digestório, pode-se buscar
informações sobre qual o habito alimentar, troca de dieta, ganho ou perda de
peso, o fornecimento de petiscos ou alimentos que não indicados que podem ser
tóxicos aos animais como chocolate aos cães. Quanto ao ambiente, animais que
possuem acesso à rua podem ingerir substâncias tóxicas ou corpos estranhos, o
uso excessivo de alguns produtos de limpeza também pode intoxicar ou causar
reações alérgicas. A região geográfica em que o animal habita pode ser levada
em consideração, quando há suspeita de doença com fator endêmico.
INSPEÇÃO
CONDIÇÃO CORPORAL
|
Obeso,
sobre peso, normal, magro ou
caquético, opacidade de pele e pelos.
|
COMPORTAMENTO/ATITUDE
|
Animado,
desinteressado, deprimido/amistoso desconfiado ou agressivo.
|
POSTURA
|
Estação,
dor abdominal, ortopnéico.
|
RITMO (cardio/respiratório)
|
Dispnéia,
taquipnéia, alteração nos movimentos abdominais durante a respiração.
|
LOCOMOÇÃO
|
Posição,
movimentação de cabeça e membros durante a deambulação.
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DÉFICIT NEUROLÓGICO
|
Alteração
na visão, ataxia ou incordenação motora.
|
INTERESSE (ALIMENTO/ÁGUA)
|
Oferecer
alimentos com alta palatabilidade para avaliar o interesse.
|
SINAIS CLINICOS E SUAS
POSSIVEIS CAUSAS:
SINAL
|
CAUSA
|
HALITOSE: odor alterado,
desagradável ou fétido do ar expirado.
|
-
Doenças bucais, nasais, faríngeas, esofágicas, gástricas ou secundária à
doenças que cursem com má digestão e uremia.
-
Coprofagia ou dieta rica em proteínas.
-
Hálito urêmico (odor forte de urina) remete a busca ao sistema urinário e
odor de ‘maça verde’ sugere cetoacidose.
-
Odores podem ser alterados ou agravados pela presença de cálculos ou doenças
periodontais e bucais.
|
DISFAGIA: representa a
dificuldade ou a impossibilidade de deglutição.
|
-
Processos dolorosos e obstrutivos (massas ou corpos estranhos), disfunções
mecânicas ou neuromusculares.
|
Regurgitação:
é a eliminação retrógrada e passiva (sem esforços abdominais) do conteúdo
esofágico. Não está associado aos sinais prodrômicos do vômito.
|
-Disfunções
mecânicas ou de motilidade laríngea/faríngea, animais jovens (com distúrbios
congênitos – megaesôfago), lesões traumáticas, obstruções esofágicas por
corpo estranho, contato ou ingestão de substâncias abrasivas ou cáusticas ou
ainda se o animal foi submetido à anestesia geral (refluxo gastro-esofágico)
causando esofagite e possível estenose esofágica.
|
EMESE (vômito): caracteriza-se
pela ejeção forçada de alimento gástrico ou duodenal pela boca. Requer a
atuação combinada das atividades gastrointestinal, muscular, respiratória e
neurológica.
|
- Agudas: indiscrições alimentares, mudanças bruscas
de dietas, gastroenterite viral (parvovirose), pancreatite, obstruções por
corpos estranhos e hipoadrenocorticismo.
- Crônicos: geralmente secundários à doenças
metabólicas, degenerativas ou inflamatórias crônicas.
-Aspecto do Vômito:
-Borra
de café: indica vômito contendo sangue vivo ou digerido (ulcerações, erosões
ou neoplasias)
-Bile:
inflamação intestinal, gastroparesia (hipomotilidade gástrica) ou
pancreatite.
-Alimentos
não digeridos: obstrução pilórica ou distúrbios de motilidade gástrica.
|
HEMATÊMESE: refere-se à
presença de sangue no vômito. A localização da origem do sangramento é
importante, podendo ser gastrointestinal, proveniente da cavidade oral ou do
trato respiratório.
|
Normalmente
por ulcerações ou erosão gastroduodenal (gastrite aguda, gastrenterite
hemorrágica, neoplasias, utilização de AINEs e corpos estranhos). E também
pode-se ter hematêmse por insuficiência renal ou hepática, mastocitoma e
coagulopatias.
|
Anorexia
e Inapetência: pode ser por origem psicológica, fisiológica ou
patológica.
Anorexia:
refere-se à completa perda de apetite.
Inapetência:
indica a perda parcial do apetite.
|
Alteração
na ingestão do alimento. Verificar o tipo de alimento fornecido, doenças no
sistema digestório ou outros sistemas corporais.
|
CONSTIPAÇÃO: significa a
passagem dificultada de fezes (infreqüente ou ausente), caracterizada pelo
esforço ao defecar e retenção de fezes secas e endurecidas.
|
Podem
ser iatrogênicas (administração de drogas como fenotiazínicos, opióides e
anti-histamínicos), comportamentais ou ambientais (mudança de rotina),
dietéticas (dietas ricas em fibras para animais desidratados), corpos
estranhos (causam obstrução), neoplasias, desidratação grave e megacolon.
|
INCONTINENCIA
FECAL:
refere-se à incapacidade de controlar a eliminação de fezes.
|
Doenças
neuromusculares (normalmente envolvendo nervos espinhais com raiz em S1 ao
S3), proctite irritativa (inflamação do ânus e do revestimento do reto).
|
DIARRÉIA: é definida como o
aumento do volume fecal, da frequência de defecação e do conteúdo líquido nas
fezes. É um processo de origem multifatorial.
|
Doença
intestinal primária (parasitismo, distúrbios inflamatórios ou infecciosos,
neoplasias), distúrbios hepáticos ou pancreáticos, reações adversas à dieta,
doenças sistêmicas (insuficiência renal, hipoadrenocorticismo) e
administração de drogas (antibióticos).
|
TENESMO E DISQUEZIA: estão associados
e são causados principalmente por lesão obstrutiva ou inflamatória do reto ou
cólon distal.
Tenesmo: é definido como
esforço improdutivo e repetido de defecação.
Disquezia: é definido como a
defecação dolorosa.
|
Existem
varias causas dentre elas colites, retrocolites, constipação, hérnias
perianais e doença prostática.
|
HEMATOQUEZIA: presença de sangue
vivo nas fezes.
|
Lesões
hemorrágicas focais no cólon distal, reto ou região períneo.
|
MELENA: refere-se à
coloração escura das fezes, resultante da presença de sangue digerido. Esse
escurecimento resulta da oxidação da hemoglobina em hematina.
|
Sangramento
gástrico e/ou duodenal, animais submetidos a dietas ricas em ferro (carne
vermelha) ou que estão sendo medicados com silicilatos podem apresentar fezes
escuras.
|
DOR ABDOMINAL: pode ter origem no
trato digestório ou em outros órgãos, inclusive o peritônio.
|
Distensão
de fígado, pâncreas, intestino e rins. Animais com dor abdominal podem adotar
uma postura de arqueamento das costas ou elevação do membro pélvico e flexão
dos membros torácicos (posição de prece).
|
DISTENÇÃO ABDOMNAL:
|
Prenhez,
hepatomegalia, esplenomegalia, cistos abdominais, dilatação gástrica por gás,
obstrução intestinal, peritonite, obesidade, retenção de fezes.
|
CAVIDADE
ORAL E FARINGE
Anatomia
(KÖNIG, 2011)
Elevar lábios superiores
para a avaliação da mucosa bucal,
glândulas salivares, gengiva e dentes verificando a presença de inflamação,
fistulas, cálculos, ulceras, nesse momento também é importante avaliar a
coloração das mucosas (normocoloração, hiperemia, cianose, icterícia,
hipocorada), simetria labial. Abertura delicada da boca do animal para
avaliação do palato duro e mole, faringe, tonsilas, durante a realização dessa
etapa pode não ocorrer colaboração do animal em casos extremos pode – se optar
pela contenção química principalmente em casos que há suspeita da presença de
objetos estranhos que podem estar causando lesões graves.
(KEKNOPET, 2015)
ESÔFAGO
Anatomia – o
esôfago é dividido em três posições sendo eles cervical, torácico e abdominal.
(KÖNIG,
2011)
Inspeção - e palpação das regiões oral e faríngea o
esôfago pode ser palpado na região cervical esquerda, no sulco jugular.
Auscultação do
esôfago cervical e torácico, o deslocamento dorsal da cabeça do animal permite
melhor palpação da estrutura assim como melhor visualização de eventuais
deformidades, pode ser realizada a ausculta do esôfago cervical e torácico que
pode detectar sons sugestivos de pneumonia aspirativa.
ABDOME
Anatomia
·
Epigástrio: é limitada cranialmente pelo
diafragma e caudalmente pela face caudal da décima terceira costela. Órgãos: fígado, estômago, pâncreas, rins
e baço.
· Mesogástrio: é limitada cranialmente pela
face caudal da décima terceira costela e caudalmente pela crista ilíaca. Órgãos: intestinos, ovários, ureter.
·
Hipogástrio: é limitada cranialmente pela
crista ilíaca e caudalmente pelo limite caudal do abdome (intrapélvico). Órgãos:
bexiga, próstata, uretra e reto.
(GOODY, 1999)
Deve-se avaliar sua forma e
perímetro e deve-se correlacionar o volume e forma com espécies, raça e idade.
Palpação -
deve ser feita com o animal em posição quadrupedal. A palpação é feita com as
duas mãos. Avalia-se a sensibilidade cutânea, o tônus muscular, o conteúdo
abdominal, além da tentativa da identificação (forma, volume, sensibilidade e
consistência) e delimitação de órgãos e regiões dolorosas.
(HOSPITALVETERINARIODOPOVOA,
2013)
Percussão - é
útil quando há alterações ou aumento do volume abdominal. Utiliza-se a técnica
de percussão digital com o paciente em decúbito dorsal ou lateral.
(FEITOSA , 2014)
Auscultação -
revela ruídos próprios do trato gastrointestinal, os borborigmos, gerados pelo
deslocamento de gás e líquido no tubo gastrointestinal.
Baloteamento -
auxilia a percussão no diagnóstico de casos de aumento de diâmetro da cavidade
abdominal (Ex. ascite). O clínico posiciona uma mão numa das paredes abdominais
do animal, e do lado oposto golpeia com o dedo médio o abdome, isto produz
ondulações, as quais são sentidas pela outra mão.
ESTÔMAGO
Anatomia -
está situado no abdome cranial, à esquerda da linha média, caudal ao fígado.
Tem formato de meia lua e é dividido em 5 regiões anatômicas cárdia, fundo,
corpo, antro e piloro.
(KÖNIG, 2011)
Palpação - o
estômago vazio não pode ser palpado (por sua localização: epigástrio ventral).
Na palpação pode-se identificar a presença de conteúdo alimentar, corpos
estranhos, além da dilatação e distensão gástrica anormal e também pode-se
verificar desconforto e até dor no ato da palpação.
Auscultação - a
auscultação a presença de borborigmos pode ser uma alteração pois normalmente a
cavidade gástrica é silenciosa.
INTESTINO
DELGADO
Anatomia - O
intestino delgado é composto por 3 segmentos (duodeno, jejuno e íleo). O
duodeno está localizado do lado direito do abdome, fixado pelos ligamentos
hepatoduodenal e mesentério. Os ductos pancreáticos e biliares desembocam na
porção inicial do duodeno.
(KONIG, 2011)
Palpação - pode-se identificar a presença de massas intra-abdominais
(gases, fluidos, alimentos, corpos estranhos e massas), espessamento da parede
intestinal e alterações anatômicas (Ex.: intussuscepção) e também pode-se
verificar desconforto e pontos dolorosos.
INTESTINO
GROSSO
Anatomia -
ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, reto e ânus.
Inspeção perianal –
observar a presença de neoplasias ou processos inflamatórios deve preceder o
toque retal para não agravar lesões pré-existentes.
Palpação e toque retal –
Presença de corpos estranhos intraluminais, impactação, espessamento das
paredes ou intussucepção.
FIGADO
Anatomia -
está situado na região epigástrica do abdome, ocupando uma posição central
levemente deslocado à direita.
(DYCE,
2007)
Palpação -
deve-se verificar a consistência, estado da superfície, sensibilidade, forma,
tamanho e localização do fígado. A principais causas de hepatomegalia são a
neoplasia, congestão passiva, acúmulo lipídico, abscesso hepático e hepatites.
PANCREAS
Anatomia - é uma glândula
pequena localizada no mesogástrio direito em posição caudal ao fígado e ao
diafragma.
(MELZER, 2007)
Exame
Físico - o
exame físico é difícil pela localização do órgão e também por ser pequeno. Mas o animal pode-se apresentar febril,
letárgico, depressivo e anoréxico.
EXAMES
COMPLEMENTARES
HEMOGRAMA COMPLETO,
BIOQUIMICO
|
Dosagem
de ALT (alanina aminotransferase) e fosfatase alcalina (FA), uréia e
creatinina
|
(PRATAVIERA, 2015)
|
COPROPARASITOLGICO
|
Encontrar
parasitas, ou ovos de parasitas que podem causar enfermidades no sistema
digestório.
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(MONTEIRO, 2011)
|
ABDOMINOCENTESE – colheita do
fluido abdominal
|
Deve-se
fazer a tricotomia e assepsia do local a se fazer a punção. Faz-se próximo a
cicatriz umbilical em cima da linha Alba.
Deve-se coletar em tubo com anticoagulante (EDTA) e outro sem.
|
(CDN, 2011)
|
ULTRASSONOGRAFIA
|
O exame
ultrassonográfico permite avaliação da morfologia e ecotextura do parênquima
de diversos órgãos e estruturas, como vesícula urinária, rins, fígado,
vesícula biliar, baço, útero, ovários, adrenal, pâncreas, mesentério,
linfonodos, trato digestivo, também para diagnostico de presença de corpos
estranhos ou gestação
|
(VETDIMAGEM,
2015)
|
RADIOGRAFIA
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A
radiografia permite a análise do abdômen animal, incluindo a pesquisa de
corpos estranhos ou radiopacos ingeridos por cães e gatos; diagnóstico da
torção gástrica; contagem do número de fetos à partir do 45° dia de gestação;
avaliação do grau de retenção fecal, avaliação do trânsito gastrointestinal
através da administração via oral de contraste radiográfico.
|
(KOB, 2015)
|
REFERÊNCIAS
FEITOSA, FRANCISCO
LEYDSON F.. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. In: FEITOSA,
FRANCISCO LEYDSON F.. Semiologia
Veterinária: A Arte do Diagnótico.
2014. ed. : Roca - Brasil, 2014. Cap. 5 Semiologia do sistema digestório p. 179
– 130.
DYCE, K.
M. et al. Tratado de Anatomia Veterinária. 2007.
KÖNIG, H, E. Anatomia dos Animais Domésticos. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
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