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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Semiologia do Sistema Digestório

O sistema digestório dos cães é composto por diferentes órgãos responsáveis pelo processo da digestão e absorção de nutrientes, é um sistema complexo que atua de maneira coordenada, dependendo da atuação correta de todos os seus componentes: cavidade oral, esôfago, estômago, intestino delgado e grosso assim como glândulas salivares, pâncreas e fígado, além de uma grande interação com outro sistemas corporais.

(KÖNIG, 2011)

Por conta de todas as interações o clinico não deve menosprezar os exames semiológicos básicos como uma anamnese bem feita e um exame físico detalhado, mesmo existindo uma gama de exames complementares, os métodos semiológicos proporcionam um direcionamento adequado a qual método complementar optar e sua interpretação correta.

Sequencia do exame físico do sistema digestório de pequenos animais :


ANAMNESE

Os principais sinais no sistema digestório são quanto ao apetite, deglutição, vômito, regurgitação, defecação, ingestão de água pode ser apresentação, alteração no hábito, diminuição ou aumento desses sinais citados acima.
As perguntas devem seguir um raciocínio cronológico que é particular de cada veterinário, podendo começar como informações básicas como vacinação, última vermifugação, se o animal possui acesso a rua ou contato com outros animais, qual ambiente em que o animal vive, como é feito o manejo desse lugar (limpeza das instalações).
A alimentação é um dos principais responsáveis por enfermidades do sistema digestório, pode-se buscar informações sobre qual o habito alimentar, troca de dieta, ganho ou perda de peso, o fornecimento de petiscos ou alimentos que não indicados que podem ser tóxicos aos animais como chocolate aos cães. Quanto ao ambiente, animais que possuem acesso à rua podem ingerir substâncias tóxicas ou corpos estranhos, o uso excessivo de alguns produtos de limpeza também pode intoxicar ou causar reações alérgicas. A região geográfica em que o animal habita pode ser levada em consideração, quando há suspeita de doença com fator endêmico.

INSPEÇÃO

CONDIÇÃO CORPORAL
Obeso, sobre peso,  normal, magro ou caquético, opacidade de pele e pelos.
COMPORTAMENTO/ATITUDE
Animado, desinteressado, deprimido/amistoso desconfiado ou agressivo.
POSTURA
Estação, dor abdominal, ortopnéico.
RITMO (cardio/respiratório)
Dispnéia, taquipnéia, alteração nos movimentos abdominais durante a respiração.
LOCOMOÇÃO
Posição, movimentação de cabeça e membros durante a deambulação.
DÉFICIT NEUROLÓGICO
Alteração na visão, ataxia ou incordenação motora.
INTERESSE (ALIMENTO/ÁGUA)
Oferecer alimentos com alta palatabilidade para avaliar o interesse.

SINAIS CLINICOS E SUAS POSSIVEIS CAUSAS:

SINAL
CAUSA
HALITOSE: odor alterado, desagradável ou fétido do ar expirado.
- Doenças bucais, nasais, faríngeas, esofágicas, gástricas ou secundária à doenças que cursem com má digestão e uremia.
- Coprofagia ou dieta rica em proteínas.
- Hálito urêmico (odor forte de urina) remete a busca ao sistema urinário e odor de ‘maça verde’ sugere cetoacidose.
- Odores podem ser alterados ou agravados pela presença de cálculos ou doenças periodontais e bucais.

DISFAGIA: representa a dificuldade ou a impossibilidade de deglutição.

- Processos dolorosos e obstrutivos (massas ou corpos estranhos), disfunções mecânicas ou neuromusculares.
Regurgitação: é a eliminação retrógrada e passiva (sem esforços abdominais) do conteúdo esofágico. Não está associado aos sinais prodrômicos do vômito.

-Disfunções mecânicas ou de motilidade laríngea/faríngea, animais jovens (com distúrbios congênitos – megaesôfago), lesões traumáticas, obstruções esofágicas por corpo estranho, contato ou ingestão de substâncias abrasivas ou cáusticas ou ainda se o animal foi submetido à anestesia geral (refluxo gastro-esofágico) causando esofagite e possível estenose esofágica.

EMESE (vômito): caracteriza-se pela ejeção forçada de alimento gástrico ou duodenal pela boca. Requer a atuação combinada das atividades gastrointestinal, muscular, respiratória e neurológica.
- Agudas: indiscrições alimentares, mudanças bruscas de dietas, gastroenterite viral (parvovirose), pancreatite, obstruções por corpos estranhos e hipoadrenocorticismo.
- Crônicos: geralmente secundários à doenças metabólicas, degenerativas ou inflamatórias crônicas.
-Aspecto do Vômito:
-Borra de café: indica vômito contendo sangue vivo ou digerido (ulcerações, erosões ou neoplasias)
-Bile: inflamação intestinal, gastroparesia (hipomotilidade gástrica) ou pancreatite.
-Alimentos não digeridos: obstrução pilórica ou distúrbios de motilidade gástrica.

HEMATÊMESE: refere-se à presença de sangue no vômito. A localização da origem do sangramento é importante, podendo ser gastrointestinal, proveniente da cavidade oral ou do trato respiratório. 
Normalmente por ulcerações ou erosão gastroduodenal (gastrite aguda, gastrenterite hemorrágica, neoplasias, utilização de AINEs e corpos estranhos). E também pode-se ter hematêmse por insuficiência renal ou hepática, mastocitoma e coagulopatias.

Anorexia e Inapetência: pode ser por origem psicológica, fisiológica ou patológica.
Anorexia: refere-se à completa perda de apetite.
Inapetência: indica a perda parcial do apetite.


Alteração na ingestão do alimento. Verificar o tipo de alimento fornecido, doenças no sistema digestório ou outros sistemas corporais.
CONSTIPAÇÃO: significa a passagem dificultada de fezes (infreqüente ou ausente), caracterizada pelo esforço ao defecar e retenção de fezes secas e endurecidas.

Podem ser iatrogênicas (administração de drogas como fenotiazínicos, opióides e anti-histamínicos), comportamentais ou ambientais (mudança de rotina), dietéticas (dietas ricas em fibras para animais desidratados), corpos estranhos (causam obstrução), neoplasias, desidratação grave e megacolon.

INCONTINENCIA FECAL: refere-se à incapacidade de controlar a eliminação de fezes.
Doenças neuromusculares (normalmente envolvendo nervos espinhais com raiz em S1 ao S3), proctite irritativa (inflamação do ânus e do revestimento do reto).

DIARRÉIA: é definida como o aumento do volume fecal, da frequência de defecação e do conteúdo líquido nas fezes. É um processo de origem multifatorial.
Doença intestinal primária (parasitismo, distúrbios inflamatórios ou infecciosos, neoplasias), distúrbios hepáticos ou pancreáticos, reações adversas à dieta, doenças sistêmicas (insuficiência renal, hipoadrenocorticismo) e administração de drogas (antibióticos).

TENESMO E DISQUEZIA: estão associados e são causados principalmente por lesão obstrutiva ou inflamatória do reto ou cólon distal.
Tenesmo: é definido como esforço improdutivo e repetido de defecação.
Disquezia: é definido como a defecação dolorosa.

Existem varias causas dentre elas colites, retrocolites, constipação, hérnias perianais e doença prostática.
HEMATOQUEZIA: presença de sangue vivo nas fezes.
Lesões hemorrágicas focais no cólon distal, reto ou região períneo.
MELENA: refere-se à coloração escura das fezes, resultante da presença de sangue digerido. Esse escurecimento resulta da oxidação da hemoglobina em hematina.

Sangramento gástrico e/ou duodenal, animais submetidos a dietas ricas em ferro (carne vermelha) ou que estão sendo medicados com silicilatos podem apresentar fezes escuras.

DOR ABDOMINAL: pode ter origem no trato digestório ou em outros órgãos, inclusive o peritônio.
Distensão de fígado, pâncreas, intestino e rins. Animais com dor abdominal podem adotar uma postura de arqueamento das costas ou elevação do membro pélvico e flexão dos membros torácicos (posição de prece).


DISTENÇÃO ABDOMNAL:
Prenhez, hepatomegalia, esplenomegalia, cistos abdominais, dilatação gástrica por gás, obstrução intestinal, peritonite, obesidade, retenção de fezes.


CAVIDADE ORAL E FARINGE

Anatomia

                                            (KÖNIG, 2011)

Elevar lábios superiores para a avaliação da mucosa bucal, glândulas salivares, gengiva e dentes verificando a presença de inflamação, fistulas, cálculos, ulceras, nesse momento também é importante avaliar a coloração das mucosas (normocoloração, hiperemia, cianose, icterícia, hipocorada), simetria labial. Abertura delicada da boca do animal para avaliação do palato duro e mole, faringe, tonsilas, durante a realização dessa etapa pode não ocorrer colaboração do animal em casos extremos pode – se optar pela contenção química principalmente em casos que há suspeita da presença de objetos estranhos que podem estar causando lesões graves.

(KEKNOPET, 2015)

ESÔFAGO

Anatomia – o esôfago é dividido em três posições sendo eles cervical, torácico e abdominal.
(KÖNIG, 2011)

Inspeção -  e palpação das regiões oral e faríngea o esôfago pode ser palpado na região cervical esquerda, no sulco jugular.

Auscultação do esôfago cervical e torácico, o deslocamento dorsal da cabeça do animal permite melhor palpação da estrutura assim como melhor visualização de eventuais deformidades, pode ser realizada a ausculta do esôfago cervical e torácico que pode detectar sons sugestivos de pneumonia aspirativa.

ABDOME

Anatomia 

·         Epigástrio: é limitada cranialmente pelo diafragma e caudalmente pela face caudal da décima terceira costela. Órgãos: fígado, estômago, pâncreas, rins e baço.

·      Mesogástrio: é limitada cranialmente pela face caudal da décima terceira costela e caudalmente pela crista ilíaca. Órgãos: intestinos, ovários, ureter.

·         Hipogástrio: é limitada cranialmente pela crista ilíaca e caudalmente pelo limite caudal do abdome (intrapélvico). Órgãos: bexiga, próstata, uretra e reto.

(GOODY, 1999)

Deve-se avaliar sua forma e perímetro e deve-se correlacionar o volume e forma com espécies, raça e idade.

Palpação - deve ser feita com o animal em posição quadrupedal. A palpação é feita com as duas mãos. Avalia-se a sensibilidade cutânea, o tônus muscular, o conteúdo abdominal, além da tentativa da identificação (forma, volume, sensibilidade e consistência) e delimitação de órgãos e regiões dolorosas.


(HOSPITALVETERINARIODOPOVOA, 2013)

Percussão - é útil quando há alterações ou aumento do volume abdominal. Utiliza-se a técnica de percussão digital com o paciente em decúbito dorsal ou lateral.
(FEITOSA , 2014)

Auscultação - revela ruídos próprios do trato gastrointestinal, os borborigmos, gerados pelo deslocamento de gás e líquido no tubo gastrointestinal.

Baloteamento - auxilia a percussão no diagnóstico de casos de aumento de diâmetro da cavidade abdominal (Ex. ascite). O clínico posiciona uma mão numa das paredes abdominais do animal, e do lado oposto golpeia com o dedo médio o abdome, isto produz ondulações, as quais são sentidas pela outra mão.

ESTÔMAGO

Anatomia - está situado no abdome cranial, à esquerda da linha média, caudal ao fígado. Tem formato de meia lua e é dividido em 5 regiões anatômicas cárdia, fundo, corpo, antro e piloro.

(KÖNIG, 2011)


Palpação - o estômago vazio não pode ser palpado (por sua localização: epigástrio ventral). Na palpação pode-se identificar a presença de conteúdo alimentar, corpos estranhos, além da dilatação e distensão gástrica anormal e também pode-se verificar desconforto e até dor no ato da palpação.

Auscultação - a auscultação a presença de borborigmos pode ser uma alteração pois normalmente a cavidade gástrica é silenciosa.

INTESTINO DELGADO

Anatomia - O intestino delgado é composto por 3 segmentos (duodeno, jejuno e íleo). O duodeno está localizado do lado direito do abdome, fixado pelos ligamentos hepatoduodenal e mesentério. Os ductos pancreáticos e biliares desembocam na porção inicial do duodeno.

(KONIG, 2011)

Palpação -  pode-se identificar a presença de massas intra-abdominais (gases, fluidos, alimentos, corpos estranhos e massas), espessamento da parede intestinal e alterações anatômicas (Ex.: intussuscepção) e também pode-se verificar desconforto e pontos dolorosos.

INTESTINO GROSSO

Anatomia - ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, reto e ânus.
Inspeção perianal – observar a presença de neoplasias ou processos inflamatórios deve preceder o toque retal para não agravar lesões pré-existentes.

Palpação e toque retal – Presença de corpos estranhos intraluminais, impactação, espessamento das paredes ou intussucepção.

FIGADO

Anatomia - está situado na região epigástrica do abdome, ocupando uma posição central levemente deslocado à direita.

(DYCE, 2007)

Palpação - deve-se verificar a consistência, estado da superfície, sensibilidade, forma, tamanho e localização do fígado. A principais causas de hepatomegalia são a neoplasia, congestão passiva, acúmulo lipídico, abscesso hepático e hepatites.

PANCREAS

Anatomia - é uma glândula pequena localizada no mesogástrio direito em posição caudal ao fígado e ao diafragma.

(MELZER, 2007)

Exame Físico - o exame físico é difícil pela localização do órgão e também por ser pequeno.  Mas o animal pode-se apresentar febril, letárgico, depressivo e anoréxico. 

EXAMES COMPLEMENTARES

HEMOGRAMA COMPLETO, BIOQUIMICO
Dosagem de ALT (alanina aminotransferase) e fosfatase alcalina (FA), uréia e creatinina
(PRATAVIERA, 2015)
COPROPARASITOLGICO
Encontrar parasitas, ou ovos de parasitas que podem causar enfermidades no sistema digestório.



(MONTEIRO, 2011)

ABDOMINOCENTESE – colheita do fluido abdominal
Deve-se fazer a tricotomia e assepsia do local a se fazer a punção. Faz-se próximo a cicatriz umbilical em cima da linha Alba.  Deve-se coletar em tubo com anticoagulante (EDTA) e outro sem.

(CDN, 2011)
ULTRASSONOGRAFIA
O exame ultrassonográfico permite avaliação da morfologia e ecotextura do parênquima de diversos órgãos e estruturas, como vesícula urinária, rins, fígado, vesícula biliar, baço, útero, ovários, adrenal, pâncreas, mesentério, linfonodos, trato digestivo, também para diagnostico de presença de corpos estranhos ou gestação





(VETDIMAGEM, 2015)
RADIOGRAFIA
A radiografia permite a análise do abdômen animal, incluindo a pesquisa de corpos estranhos ou radiopacos ingeridos por cães e gatos; diagnóstico da torção gástrica; contagem do número de fetos à partir do 45° dia de gestação; avaliação do grau de retenção fecal, avaliação do trânsito gastrointestinal através da administração via oral de contraste radiográfico.


(KOB, 2015)


 REFERÊNCIAS

FEITOSA, FRANCISCO LEYDSON F.. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. In: FEITOSA, FRANCISCO LEYDSON F.. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnótico. 2014. ed. : Roca - Brasil, 2014. Cap. 5 Semiologia do sistema digestório p. 179 – 130.

DYCE, K. M. et al. Tratado de Anatomia Veterinária. 2007.

KÖNIG, H, E. Anatomia dos Animais Domésticos. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.




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